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A MOBILIDADE URBANA também é LEMBRANÇA...


Quando cheguei à pré-adolescência, passei a viver na companhia de um automóvel da marca “Ford”, ano 1938...

...todo marrom.

O carro era extraordinariamente marrom...

(Se é que existe esta tonalidade)

Já ao “galgar” para a outra fase (adolescência),

lá estava meu “pai” com os olhos iluminados e sempre fiel à predileta marca “Ford”.

(Só que agora o veículo era um “flamante” ano 1951)

A cor?

- Bem, era “azul noite”.

(Um azul bem escuro, se me faço entender)

No antigamente, estas máquinas eram chamadas de “carros”...

... e no “hoje”, prontamente responderiam por “diligências feitas de aço”.

Mas meu “pai” orgulhava-se da forte lataria e da resistência que “eles” ostentavam...

(Um autêntico “tanque de guerra familiar”, dizia ele)

Evidente que meu “ainda jovem pai” não imaginava

o quanto poderia ser mortal uma colisão com um daqueles “trambolhos ambulantes”.

E com certeza (se “ele” ainda estivesse a brindar com sua serenidade e carinho),

falaria com alegria e ironia,

que os carros atuais são como “casquinhas de ovos”.

“Casquinhas de ovos” que trafegam pelas ruas da cidade,

tal qual ovos de Páscoa,

a saltar dentro do ninho.

Querido “pai”...

Mal sabia que estas “casquinhas” são (vagando agora nas leis da certeza),

bem mais seguras do que aqueles “automóveis” do seu tempo.

Os “semáforos” de antigamente faziam-se “notar” somente no centro da capital...

...eram raros.

(Raros como no “hoje” é também, a piedade dos condutores para com os pedestres)

E as principais ruas no centro da cidade?

(Na sua minoria, ofertavam o famigerado “asfalto”...)

...enquanto que em outras,

os paralelepípedos é que reinavam como passarelas.

(Passarelas nas quais a nostalgia do coração podia sorrir)

E assim no restante das “vias”,

o “chão batido” dominava...

(Dominava tal a coragem daquela geração que por ali marchou)

A palavra “pedestre” era desconhecida...

(Assim como muitas coisas da alma também)

E desta forma,

“bem mais tarde” fui compreender que o “pedestre”,

é uma pessoa que viaja a pé.

Quando se “percorria” motorizado,

as vias públicas à noite - fato incomum na época -, o “farol alto” sinalizava a sutil e secreta discórdia...

(Discórdia gerada pelas atitudes daqueles que praticavam e ainda praticam a “falta de ética”)

E então o que trafegava na via oposta

assumia o “ato” como sinônimo de ofensa...

(Ofensa que ainda consentimos àqueles que não praticam a cidadania)

...algo parecido como condenação à morte

que nenhum “chofer’ gostava de levar para casa.

Cansei de vê-lo com meio corpo para fora da janela da “charanga”,

proclamando a total “deseducação” ao desafiante...

(Deseducação que ainda presencio, no calar daqueles que prometem e não cumprem)

E as palavras de “baixo nível” hein?

Sim, eram largamente distribuídas em alto e bom “tom”...

(Como se estivessem em processo eterno de “emburrecimento coletivo” e “falta de educação”)

Mas aquelas “palavras pecaminosas” ainda permanecem as mesmas até o “hoje”...

(No mesmo “hoje” que não deveríamos ser mais o “eu”, e sim o “nós”)

Espero que não haja um mal-entendido trágico aqui,

pois vou confirmar que somente a linguagem dos “sinais obscenos” é que evoluíram...

(Evoluíram como a cobiça e o descaso dos formuladores de políticas públicas, na sociedade)

Lembro-me de indicar com o braço para fora da janela do automóvel

se faríamos uma conversão à direita ou à esquerda...

...respectivamente “eu” e meu “pai”,

executando magistralmente aquele malabarismo...

(Tipo “natação sincronizada” da época atual)

Um lindo compasso,

tal qual paz sem vitória ...

(Algo que somente almas que se amam executam)

O “limite de velocidade” ainda não existia...

(Assim como “a falta de escrúpulo” que atualmente também não deveria existir, mas existe)

Então,

não raros eram os “peguinhas” entre os condutores e seus veículos.

Uma forma de por à prova a robustez da máquina

e a coragem do motorista.

(Uma similar coragem que devemos possuir quando há o confronto entre a consciência e a atitude)

E os freios?

- Bem, geralmente permaneciam indiferentes ao comando do motorista.

Um comando por vezes suave, mas ineficaz...

(Sim, suave como a brisa ao amanhecer do verão, e ineficaz como os gritos de justiça nas casas do poder)

Por vezes questiono se eram bons ou maus tempos aqueles...

...e respondo que para a “mobilidade urbana”,

eram tempos de perigo eminente.

E para nós, que pertencemos àquele tempo,

restou apenas uma enorme saudade para sentir...

(Uma saudade perigosa eu sei)

Mas confesso que meu coração ainda grita um ruído de nostalgia...

...grito este que procuro silenciar dentro da memória.

É uma saudade tão grande,

que até parece que o “descrito tempo” jamais existiu...

...e que ele não aconteceu.

Simplesmente foi um tempo...

...um tempo que se perdeu.

Então, aproveito enquanto você estimula a sua imaginação,

para ausentar-me...

...é apenas uma “saidinha”.

Prometo...

...eu volto.

É que vou fechar a janela, pois onde estou,

sinto um fortíssimo aroma...

...um aroma “morno” e “aconchegante”,

inundado de “lembranças”.

...É que por vezes, fico até com saudades de mim!

Abraços.

Se gostar tecle em “curtir” e compartilhe com amigos...

ACésarVeiga

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